sábado, 8 de dezembro de 2012

O Pagador de Promessas - 1962


Diz a lenda que foi o crítico e cineasta François Truffaut quem puxou o aplauso que garantiu a inesperado Palma de Ouro em Cannes, em 1962, para "O Pagador de Promessas". O fato é que o filme foi ovacionado e é fácil entender o motivo.

O filme de Anselmo Duarte é realmente empolgante e tem uma conclusão inesquecível e politicamente correta: o povo unido vence qualquer barreira. Filmado no auge do movimento Cinema Novo (do qual Duarte, que havia sido o galã mais popular do Brasil em toda a década de 50, não fazia parte), o longa foi um pouco esnobado pela crítica brasileira e mesmo internacional, evidentemente de forma injusta.



Além da Palma de Ouro, "O Pagador de Promessas" foi incluído entre os cinco finalistas que concorreram ao Oscar de filme estrangeiro e ganhou vários prêmios internacionais.

E o filme resistiu muito bem ao tempo. Tecnicamente é perfeito (no controle de figurantes, movimentos de câmera e papéis secundários, coisa rara de funcionar tão bem no cinema brasileiro até hoje) e seu tema, universal: o conflito entre a religião organizada e a crendice popular. O padre católico proíbe o lavrador de entrar na igreja porque a promessa foi feita a Iansã no candomblé, religião de influência africana.

O filme aproveita de forma extraordinária não apenas a paisagem baiana, mas também os talentosos atores locais, como Geraldo Del Rey, Othon Bastos, Antonio Sampaio Pitanga, que viraram astros depois, e segue a estrutura da peça teatral (com os conflitos bem armados e que vão crescendo). Mas grande parte da qualidade do filme se deve ao trabalho nunca reconhecido devidamente de Leonardo Villar, um ator da estirpe do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), que mergulha profundamente na alma do personagem, muito simples e muito brasileiro.

O mesmo se pode dizer de Glória Menezes, que, em sua estréia no cinema, já demonstra qualidades de grande atriz e estrela que depois seria. Ela substituiu a atriz Maria Helena Dias, que ficou doente. O papel original de Glória, o da prostituta, coube à vedete Norma Benguell, chamda às pressas para o filme.

Benguell aproveitou o sucesso em Cannes, se estabeleceu em Roma e iniciou assim uma longa e bem-sucedida carreira internacional, chegando a se casar com o ator italiano Gabriele Tinti.

O Pagador de Promessas" foi rodado em duas versões, uma com atores portugueses e outra com brasileiros porque os portugueses eram co-produtores.

Assista o filme em:                        https://www.youtube.com/watch?v=u7j0Jkq2eeg


SINOPSE

Zé do Burro (Leonardo Villar) e sua mulher Rosa (Glória Menezes), vivem juntos em uma pequena propriedade a 42 Km de Slavador (Bahia). Um dia, o burro de estimação do Zé foi atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa à Santa Bárbara, para salvar seu animal. Com o reestabelecimento do animal, Zé põe-se a cumprir a promessa, doa metade de seu sítio para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão bonitão (Geraldo Del Rey) e ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo (Dionízio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé ter feito sua promessa em um terreiro de candomblé.

FICHA TÉCNICA
Direção: Anselmo Duarte
Roteiro: Anselmo Duarte
Produtor: Oswaldo Massaini
Ano: 1962
Gênero: Drama
Duração: 98’

ELENCO
Leonardo Villar (Zé do Burro)
Glória Menezes (Rosa)
Dionísio Azevedo (Padre Olavo)
Norma Bengell (Marli)
Geraldo Del Rey (Bonitão)
Roberto Ferreira (Dedé)
Othon Bastos (Repórter)
João Desordi (Detetive)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você tem mais alguma informação sobre este cinema?