Diz a lenda que foi o crítico e cineasta François Truffaut quem puxou o
aplauso que garantiu a inesperado Palma de Ouro em Cannes, em 1962, para
"O Pagador de Promessas". O fato é que o filme foi ovacionado e é
fácil entender o motivo.
O filme de Anselmo Duarte é realmente empolgante e tem uma conclusão
inesquecível e politicamente correta: o povo unido vence qualquer barreira.
Filmado no auge do movimento Cinema Novo (do qual Duarte, que havia sido o galã
mais popular do Brasil em toda a década de 50, não fazia parte), o longa foi um
pouco esnobado pela crítica brasileira e mesmo internacional, evidentemente de
forma injusta.
Além da Palma de Ouro, "O Pagador de Promessas" foi incluído
entre os cinco finalistas que concorreram ao Oscar de filme estrangeiro e
ganhou vários prêmios internacionais.
E o filme resistiu muito bem ao tempo. Tecnicamente é perfeito (no
controle de figurantes, movimentos de câmera e papéis secundários, coisa rara
de funcionar tão bem no cinema brasileiro até hoje) e seu tema, universal: o
conflito entre a religião organizada e a crendice popular. O padre católico
proíbe o lavrador de entrar na igreja porque a promessa foi feita a Iansã no
candomblé, religião de influência africana.
O filme aproveita de forma extraordinária não apenas a paisagem baiana,
mas também os talentosos atores locais, como Geraldo Del Rey, Othon Bastos,
Antonio Sampaio Pitanga, que viraram astros depois, e segue a estrutura da peça
teatral (com os conflitos bem armados e que vão crescendo). Mas grande parte da
qualidade do filme se deve ao trabalho nunca reconhecido devidamente de
Leonardo Villar, um ator da estirpe do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), que
mergulha profundamente na alma do personagem, muito simples e muito brasileiro.
O mesmo se pode dizer de Glória Menezes, que, em sua estréia no cinema,
já demonstra qualidades de grande atriz e estrela que depois seria. Ela
substituiu a atriz Maria Helena Dias, que ficou doente. O papel original de
Glória, o da prostituta, coube à vedete Norma Benguell, chamda às pressas para
o filme.
Benguell aproveitou o sucesso em Cannes, se estabeleceu em Roma e
iniciou assim uma longa e bem-sucedida carreira internacional, chegando a se
casar com o ator italiano Gabriele Tinti.
O Pagador de Promessas" foi rodado em duas versões, uma com atores
portugueses e outra com brasileiros porque os portugueses eram co-produtores.
Assista o filme em:
https://www.youtube.com/watch?v=u7j0Jkq2eeg
SINOPSE
Zé do Burro (Leonardo Villar) e
sua mulher Rosa (Glória Menezes), vivem juntos em uma pequena propriedade a 42
Km de Slavador (Bahia). Um dia, o burro de estimação do Zé foi atingido por um
raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa à Santa
Bárbara, para salvar seu animal. Com o reestabelecimento do animal, Zé põe-se a
cumprir a promessa, doa metade de seu sítio para depois começar uma caminhada
rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via
crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com
o cafetão bonitão (Geraldo Del Rey) e ao encontrar a resistência ferrenha do
padre Olavo (Dionízio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão
de Zé ter feito sua promessa em um terreiro de candomblé.
FICHA
TÉCNICA
Direção:
Anselmo Duarte
Roteiro:
Anselmo Duarte
Produtor:
Oswaldo Massaini
Ano:
1962
Gênero:
Drama
Duração:
98’
ELENCO
Leonardo
Villar (Zé do Burro)
Glória
Menezes (Rosa)
Dionísio
Azevedo (Padre Olavo)
Norma
Bengell (Marli)
Geraldo
Del Rey (Bonitão)
Roberto
Ferreira (Dedé)
Othon
Bastos (Repórter)
João
Desordi (Detetive)
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